Há quem garanta que o ciclo do álcool possa representar uma grande inovação se comparado aos anteriores: gerará energia alternativa aos combustíveis fósseis, ampliará a oferta de (sub)empregos e fortalecerá a economia do país. Isto parece real e, por conseguinte, animador, pois estes são demandas que assombram nosso dia-a-dia. Mas será mesmo que tudo caminha para termos finalmente descoberto “a galinha dos ovos de ouro” como lembra o dito popular? Se é tão espetacular assim, porque nenhuma outra nação ou mesmo o Brasil não pensou nisso antes?
Afirma-se que a produção de etanol em larga escala amplia o leque de negócios e o faturamento de nossa economia. Ampliaremos nosso superávit comercial. Ocorre que para produzir álcool em escala comercial são necessários milhares de pés de cana-de-açúcar o que inviabiliza o cultivo em pequenas propriedades onde estão os agricultores mais empobrecidos de nosso país. Por tanto o crescimento econômico será para quem já é grande.
Analisando historicamente os ciclos já vividos, é prudente perguntar: onde está toda a riqueza gerada por eles? Restou algo positivo para distribuir entre os brasileiros? Alguém poderia dizer: as elites da época ensandecidas que eram, agiram de forma egoísta e concentraram em suas mãos o poder sobre o Estado, controlando assim a distribuição de riquezas. Será que não ampliaremos o fosso entre ricos e pobres?
Mais do que isso é importante discutir o trabalho nesse novo ciclo. Nos outros se utilizou do escravo, do índio, do imigrante. Trabalho oferecido a preços módicos sem qualquer direito ou dignidade. Se ampliarmos nossos canaviais alguém será empregado? Uma vez que máquinas já fazem o trabalho de milhares de pessoa nos canaviais poucos serão os chamados. Os que forem executarão tarefas deploráveis, tratados como sub-humanos.
Se de fato há uma preocupação ambiental, humana e ética, penso que seja necessário refletir com mais responsabilidade sobre o tema. Há quem queira apressar o processo porque deseja satisfazer seus interesses como é o caso do presidente George W. Bush (EUA) que quer combustível mais barato e abundante; outros que não desejam que se produza uma gota seque de álcool como os presidentes Hugo Chavéz (Venezuela) e Evo Morales (Bolívia) porque não sabem o que fazer com seu petróleo e seu gás, que além de manter economicamente seus países os mantém no poder.
A pergunta é: qual será a opção do Brasil? Satisfazer a fome devoradora de dignidade de Bush ou estremecer diante das pressões de “los hermanos”. Ou quiçá assumirá uma postura madura, nacionalista...
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