Ecologia movida a ética

Um dos grandes ícones da vida pública brasileira deixa o governo pela porta da frente. Marina Silva, senadora, ambientalista e mulher, assumiu de forma ética e solidária, seu compromisso político em favor da vida. Independente dos motivos que a conduziram a tomar sua decisão, a história a consagra como cidadã virtuosa, coerente e ética. Com ela aprendeu-se a vislumbrar a causa ambiental na sua multiplicidade de faces. Discutir meio ambiente passou a ser uma questão de todos, e não apenas de especialistas ou técnicos, isso pelo fato de que a questão ambiental passou a ser política, social, humana e ética. A defesa incondicional da vida em suas variadas formas de expressão, acrescentou um novo sabor ao embate sobre a questão ambiental. Pode-se dizer que finalmente, como afirma Leonardo Boff, a questão ambiental chegou ao século XXI. A maturidade extraordinária assumida em torno da questão, fez de Marina Silva, uma referência mundial. Mas a história haveria de nos ter preparado para a fato de que ninguém é eterno ou insubstituível, e que em algum momento haveríamos de discutir meio ambiente sem Marina ao centro dos debates. Mas parece que este é outro legado desta importante figura da história brasileira. Aprendemos a compreender meio ambiente numa dimensão menos cartesiana e mais ética, ousaria dizer até espiritual. Não se pode ignorar o novo sabor do tempero experimentado, e uma vez experimentado, há sempre quem queira tê-lo por perto. Dito de outra forma, não nos conformaremos em discutir meio ambiente sem compreendermos sua complexidade. Se hoje ainda nos preocupamos com o futuro, é sinal de que temos a esperança de poder vivê-lo com dignidade, preservando a dignidade de toda a vida. Isto parece essencial se se quiser garantir aos que não nasceram ainda, o direito de ter seu futuro. Uma ecologia movida pela ética consiste numa opção incondicional por valores que transcendem àquilo que qualquer riqueza possa pagar. Eis o grande legado de Marina à história de seu povo: cuidar do que ainda resta como forma de garantir que outros possam ter o direito de existir.